A política brasileira atravessa um momento singular em que a disputa não se dá mais apenas entre grandes blocos ideológicos tradicionais, mas também nas margens, onde eleitores que não se identificam com os polos dominantes exercem papel decisivo. Esse cenário reflete uma fragmentação real do eleitorado que escapa às categorias rígidas de esquerda e direita, exigindo uma nova compreensão dos movimentos sociais e eleitorais. A política entre polos cristalizados e a política nas margens demonstra que setores amplos da população se encontram em zonas de ambiguidade, o que cria incertezas e oportunidades para forças políticas que souberem dialogar com essas faixas mais fluídas do eleitorado.
Dentro desse contexto, a disputa presidencial em 2026 mostra que os polos cristalizados já ganharam contornos bem definidos, com candidaturas que mobilizam bases firmes de apoio. No entanto, a política nas margens revela que existe um grande contingente de eleitores que não se identificam plenamente com nenhuma das grandes correntes dominantes. Essa faixa, que não se posiciona nem de um lado nem de outro, tem uma enorme influência sobre os rumos da disputa, justamente por ser suscetível a mudanças de percepção conforme os acontecimentos políticos e econômicos se desenrolam.
A política entre polos cristalizados e a política nas margens também expõe como narrativas rígidas podem limitar a capacidade de avanço de projetos políticos que não consigam dialogar com as demandas variadas da população. Quando os campos políticos se cristalizam em posições extremadas, tendem a perder a capacidade de incorporar nuances e aspirações que não se encaixam no discurso binário. Essa dinâmica cria um espaço político nas margens que, por vezes, é subestimado, mas que pode se tornar determinante em cenários eleitorais apertados e em transições de poder.
Outro aspecto relevante da política entre polos cristalizados e a política nas margens está na forma como as campanhas e discursos são moldados. A necessidade de atrair eleitores que não se alinham com os polos principais leva as candidaturas a adotarem estratégias mais flexíveis e menos previsíveis, buscando interlocução com grupos que historicamente foram ignorados pelos grandes projetos políticos. Essa mudança de foco exige que as lideranças entendam que a política nas margens não é um mero complemento, mas sim uma arena que pode redefinir tendências dominantes e influenciar resultados de forma significativa.
A perspectiva de reeleição do atual presidente, apesar de polarizada, está diretamente conectada a como a política entre polos cristalizados e a política nas margens se manifesta nas expectativas e percepções da população. A capacidade de um governo em gerar resultados econômicos e sociais tangíveis tem impacto direto sobre a elasticidade desse eleitorado mais volátil. Quando políticas públicas conseguem atender às necessidades reais da população, parte significativa dos eleitores nas margens pode migrar em direção ao apoio pragmático, reduzindo o peso de posições ideológicas estritas.
A política entre polos cristalizados e a política nas margens também influencia as alianças partidárias e negociações políticas. Em um cenário em que os polos dominantes se encontram acirrados, buscar apoio nos segmentos marginais pode significar ajustar discursos, ampliar coalizões e adotar posturas estratégicas que priorizem consensos e flexibilidade. Essa abordagem contrasta com a inflexibilidade tradicional que às vezes marca os grandes blocos ideológicos, e pode ser decisiva para a formação de maiorias parlamentares e para a construção de agenda legislativa.
Além disso, a influência da política entre polos cristalizados e a política nas margens não se limita apenas ao momento eleitoral, mas se estende à governabilidade pós-eleição. Governar um país com uma base de apoio que inclui parcela significativa dos eleitores nas margens exige articulação constante, sensibilidade às mudanças de clima político e capacidade de negociação com diferentes segmentos sociais e políticos. Isso implica que a estabilidade política depende tanto das posições firmes quanto da habilidade de incorporar vozes que, de outra forma, ficariam à margem do debate político.
Ao final, compreender a política entre polos cristalizados e a política nas margens é essencial para quem acompanha e participa do processo político brasileiro. A célebre impressão de que o eleitorado está rigidamente dividido entre duas grandes opções simplifica demais uma realidade que é muito mais dinâmica e multifacetada. A política nas margens mostra que existe uma pluralidade de posições e expectativas que podem alterar significativamente o resultado das competições eleitorais e a maneira como o país será governado nos próximos anos.
Autor: Charlotte Harris

